O Ministério Público (MP) e a Polícia Civil deflagrou na quinta-feira (9) a Operação Porto Firme para desarticular uma milícia que atua na região de Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio. De acordo com os investigadores, trata-se de uma narcomilícia, que é uma milícia que trafica drogas. Ao todo, os agentes tentavam cumprir 16 mandados de prisão preventiva e 51 mandados de busca e apreensão. Entre os denunciados pelo MP na operação de hoje estão dois policiais militares.
“A principal diferença dessa organização criminosa é que, além de cometerem os crimes tradicionais de milícia, como extorsões, ameaças e homicídios, eles também praticam o crime de tráfico de entorpecentes”, apontou o delegado chefe da Delegacia de Homicídios, Antônio Ricardo Nunes.
Assassinato levou à descoberta do grupo
A investigação começou com a apuração do assassinato de Marcus Vinícius Calixto, em 2018, por contrariar interesses do grupo criminoso, que seria liderado pelo oficial da Polícia Militar Leonardo Magalhães Gomes da Silva, também conhecido como “Capitão”, de acordo com o MP.
Outro policial militar, o cabo Fernando Mendes Alves, conhecido como “Biro”, era responsável por garantir a proteção dos demais membros do grupo, sem que forças externas os incomodassem, inclusive intervindo em ações da Polícia Civil. O cabo da PM atuava no Programa Centro Presente. Apontado como o número 2 da organização criminosa, ele foi preso em casa, em Vargem Pequena. Os mandados foram expedidos pela 1ª Vara Especializada da Capital.
“Para nós, é realmente muito ruim saber que essas organizações criminosas possuem policiais envolvidos nos seus quadros”, enfatizou o chefe da DH, delegado Antônio Ricardo Nunes.
A denúncia oferecida pelo MP à Justiça afirma que a milícia atua com extrema violência e emprego de armas de fogo, recorrendo inclusive a homicídios, como o de Marcus Vinícius.
A operação foi realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado (GAECO/MPRJ), com o apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência e em parceria com a Delegacia de Homicídios da Capital e a Corregedoria da Polícia Militar.
Envolvimento em chacina
Segundo o MPRJ, o Capitão Leo estaria disputando o controle de uma região conhecida como Pombo sem Asa. A organização criminosa por ele comandada é, segundo o Gaeco, responsável por crimes como tráfico de drogas e de armas de fogo, além de extorsões, homicídios, agiotagem e corrupção ativa. O grupo age na região de Vargem Grande, Vargem Pequena e adjacências.
No dia 7 do mês passado, uma chacina deixou quatro mortos e dois feridos na comunidade. A polícia também investiga se o Capitão Léo teria envolvimento com esses crimes.
Núcleos
O Gaeco revelou ainda que o grupo possui estrutura organizada em núcleos por tipo de atuação. “Os investigadores constataram que a organização criminosa, conhecida na região por atuar com extrema violência e com largo emprego de armas de fogo, não guardava em suas atividades uma separação rígida entre as tarefas atribuídas a seus integrantes, sendo possível, no entanto, identificar e destacar a hierarquia e a predominância no desempenho de funções de cada um, critério este utilizado para a divisão do grupo em núcleos”.
Nessa estrutura, capitão Leo assumia o topo do comando, tendo o cabo Biro como braço-direito, ou seja, o segundo principal criminoso da milícia. Além da interferência no trabalho das autoridades públicas, o cabo era responsável por orientar e decidir os rumos a serem tomados pelo grupo.
Abaixo do cabo havia outros três criminosos que atuavam no núcleo gerencial do grupo. Abaixo do trio havia o núcleo operacional, “composto por todos os demais membros do bando, exercendo tarefas tais como as de ‘vapor’ e ‘olheiro’, diante da principal atividade econômica do grupo, a venda de entorpecentes”, destacou o Gaeco.