Veto da carne de MT para China ainda não derrubou preços ao consumidor
Produtores citam dificuldades, frigoríficos culpam supermercados, que respondem por sua vez que margem de redução foi muito pequena.
Allan Pereira | RDNews
A suspensão das exportações da carne bovina brasileira para a China tem levado especialistas a prever que o preço do produto caia nos supermercados, mas a queda ainda não tem sido observada pelos consumidores. A Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) aponta que não participa do preço final do produto e afirma que está tendo prejuízos no cenário atual. Já os frigoríficos culpam os supermercados por não promover a redução, enquanto os supermercados apontam que receberam uma margem muito pequena dos frigoríficos para diminuir os valores nas gôndolas.
A exportação da carne bovina brasileira foi suspensa voluntariamente pelo ministério da Agricultura, em 4 de setembro, depois que foram notificados dois casos da doença Encefalopatia Espongiforme Bovina, mais conhecida como “vaca louca”. Inclusive, uma delas foi em Mato Grosso. A suspensão já dura quase dois meses e já poderia ter sido derrubada, mas a China não retomou as compras por problemas econômicos internos.
O diretor de operações do Imac, Bruno de Jesus Andrade, explica que os números já refletem o efeito China. “No Brasil, até o momento a perda diária foi de 10,4 milhões de dólares por dia útil e 42% desta receita seria de Mato Grosso. A suspensão está trazendo prejuízos não só para a indústria, no campo a arroba do boi já caiu cerca de 20% nas últimas semanas”, aponta.
Com a suspensão, a expectativa é que a carne seja destinada para o mercado interno, ou seja, para os próprios brasileiros. O movimento pode fazer com que o preço da carne diminua nos supermercados, contudo, ela ainda não está sendo sentida pela população. O diretor do Imac aponta que “pode levar mais tempo para que a desvalorização no campo e no atacado possa ser verificado nas gôndolas dos supermercados”.
Ao , o diretor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Francisco Manzi, aponta que o trabalho dos produtores é de dentro da porteira e explica que a venda do boi é definida pelos frigoríficos. “Não participamos da formação do preço final ao consumidor”, diz.
rancisco pontua que o produtor de gado está passando por uma situação muito difícil, apesar do preço da arroba do boi ter subido e as exportações aumentado, ambos cotados em dólar valorizado, antes da suspensão da China. “Os nossos custos subiram, proporcionalmente, até mais que o preço de venda. O produtor está em uma corda bamba, fechando praticamente no vermelho”.
Entre os custos, está a alimentação do gado, que tem como cardápio algumas commodities como soja, milho e algodão, que são influenciáveis pela alta do dólar. A crise hídrica também pesou, já que acabou com a pastagem dos bois e prejudicou a colheita de agricultores. Ele acredita que esse custo deve permanecer por algum tempo.
Nesse cenário, Francisco conta que a situação varia de produtor para produtor. Os que não podem segurar o gado vendem por um preço abaixo do mercado, tem uns que conseguiram travar o preço e conseguiu minimizar os impactos, e outros que podem segurar e esperar um cenário de venda favorável. “Mas, em média, a atividade está com uma margem muita apertada [de ganho], praticamente nula”.
Francisco aponta que a arroba do boi estava sendo vendido por volta de R$ 310 há dois meses. Hoje, o preço já gira em torno de R$ 270.
Preço não chegou no consumidor
O Sindicato das Indústrias de Frigoríficos (Sindifrigo) culpou os supermercados por não proporcionar a queda do preço da carne. “Houve quedas de 15% a 20% na arroba do boi e na carne da indústria para o atacado, mas no balcão não teve nenhuma queda, ou seja, foi 0% o que o varejo baixou em seus produtos. Distorção que mostra a ganância de um elo que não quer fazer parte de uma corrente da cadeia”, diz em nota assinada pelo presidente Paulo Bellincanta e publicada na semana passada.
O Sindifrigo conclama que “está na hora de o balcão mostrar sua parceria, baixando os preços do produto e proporcionando maior vazão a nossa produção”. Afirma também que todos se ajudem. “Os balcões dos açougues e supermercados precisam se engajar na cadeia e não se apresentarem como inimigos”, disse no final.
Acionada pela reportagem do , a Associação de Supermercados de Mato Grosso (Asmat) esclarece que “os estabelecimentos receberam uma margem muito pequena de redução de preços dos frigoríficos, a qual está sendo repassada ao consumidor”. “No entanto, é importante ressaltar que a redução de preços mais acentuada foi do pecuarista para o frigorífico”, diz.
De acordo com a Imac, a China costuma responder por mais de 60% das exportações estaduais. Mato Grosso exportou 1,43 bilhão de dólares com o comércio exterior de carne bovina e derivados, de janeiro a setembro deste ano, o que apresenta um resultado 17,9% superior ao mesmo período de 2020. O balanço para o mês de outubro ainda deve sair no início de novembro.