A Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol), por meio do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) e da 25ª DP (Engenho Novo), com apoio do Departamento Geral de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR) e do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público Estadual, realizou, na manhã de quinta-feira (17), a Operação Overload II. A ação teve como objetivo cumprir 28 mandados de busca e apreensão em endereços de envolvidos em um esquema de lavagem de dinheiro ligados a uma das maiores facções criminosas do Estado.
A operação é um desdobramento da primeira fase da Operação Overload, realizada em 2015, para cumprir mandados de prisão e busca e apreensão contra 61 pessoas acusadas de associação armada ao tráfico de drogas e armas. A apuração apontou que as lideranças da facção, mesmo de dentro de presídios federais, mantinham um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas das comunidades do estado, fazendo uso de contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas envolvidas no crime.
A primeira fase das investigações tiveram início em 2014 onde, a partir de ações de inteligência, foram identificadas cerca de 28 contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas utilizadas para ocultar a origem do dinheiro obtido ilicitamente pela organização criminosa por meio do tráfico de drogas e armas. Durante o monitoramento, os investigadores tiveram acesso à prestação de contas e contabilidade de várias comunidades comandadas pelos traficantes investigados. Os agentes constataram que, somente na Baixada Fluminense, o faturamento mensal de algumas comunidades chegava R$ 7 milhões, sendo cerca de 20% do lucro destinado às lideranças da quadrilha.
Já na segunda fase, a investigação constatou inúmeras negociações de vendas de armas e drogas realizadas pela organização criminosa, a partir do uso de contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas envolvidas na transação criminosa. Foram solicitados ao COAF Relatórios de Inteligência Financeira (RIF) e quebra do sigilo fiscal, com autorização da Justiça, de 10 pessoas físicas e de 35 empresas envolvidas na complexa engenharia financeira. O esquema movimentou em pouco mais de um ano cerca de R$ 200 milhões.
Com base nas informações apuradas, o DGCOR desvendou um elaborado esquema de lavagem de dinheiro que visava dar aparência lícita ao dinheiro obtido pela organização criminosa com o tráfico de drogas, compra e venda de armas de fogo e munições, roubos de carga, de veículos, a estabelecimentos comerciais, a instituições financeiras, entre outros crimes. A quadrilha usava contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas para efetuar depósitos de altos valores e, posteriormente, realizava retiradas dessas contas como se fosse receita lícita. As contas das pessoas jurídicas utilizadas na atividade criminosa eram dos estados do Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina.
As contas bancárias e demais investimentos das empresas e indiciados identificados foram bloqueadas e o valor arrecadado está sendo verificado junto às instituições financeiras, cujo perdimento já foi solicitado à Justiça.
A ação ocorre simultaneamente nos Estados do Rio, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais. A operação conta com o apoio da COPE da Polícia Civil do Estado do Paraná, da 2ª Delegacia de Furtos e Roubos da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, da Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico de Campo Grande – MS e da 1ª Delegacia de Polícia de Ponta Porã, da Polícia Civil do Estado do Mato Grosso do Sul.
Dentre os alvos dos mandados, que foram expedidos pela 1ª Vara Criminal Regional de Madureira, estão dois chefões do CV, Elias Pereira da Silva, conhecido como Elias Maluco, e Márcio Santos Nepomuceno, o Marcinho VP. Os dois estão presos em um presídio federal em Catanduvas, no Paraná.
Marcinho VP atuava no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, quando foi preso em 1996, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
Elias Maluco agia no Alemão e também no Complexo da Penha e foi capturado na Favela da Grota (Alemão), em setembro de 2002. Ele foi condenado a 28 anos de prisão como o mandante da morte do jornalista Tim Lopes, em junho daquele ano, depois do profissional de ter sido pego na Vila Cruzeiro (Penha) e levado à Grota pelos traficantes.
INVESTIGAÇÃO
As investigações para a operação começaram a partir da apreensão de um celular da facção no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, em 2014. No aparelho, os agentes encontraram diversas mensagens entre os traficantes, onde foram indicadas pelo menos 28 contas bancárias de pessoas e empresas, para ocultar, circular e dissimular a origem ilícita do dinheiro da quadrilha.
“A investigação realizada desarticulou financeiramente a organização criminosa autodenominada Comando Vermelho, responsável pelas recentes cenas de guerra por disputa de territórios vivenciadas pela população do Estado do Rio de Janeiro, uma vez que o fortalecimento do seu poderio bélico está diretamente vinculado aos altos valores auferidos pelas suas atividades ilícitas, o que tende a aumentar com as recentes decisões judiciais que vedam as ações policiais em comunidades dominadas pelo tráfico”, destaca o delegado Felipe Curi, chefe do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), que comanda a operação.
De dentro da cadeia, Criam compra drogas e armas, dando ordens a comparsas da facção. Ele é responsável pela parte financeira do bando e por repassar parte dos lucros da quadrilha à família de Elias Maluco.
Segundo o MPRJ, Gustavo Vieira e Danilo Flores receberam em suas contas depósito do CV, mesmo sabendo da origem ilegal dos valores.
Já Liliane Laurinda e Liz Lelis também permitiam a utilização de contas pertencentes às suas empresas para o direcionamento de valores da facção, recebendo depósitos em espécie e fazendo circular e/ou movimentar os recursos ilegais em outras contas bancárias, através de transferências.
Carolina Melissa e Maria Aparecida Campos, permitiram a utilização de contas pertencentes à empresa delas, que fechou em 2015, para circular dinheiro da quadrilha.
O mesmo foi visto pelos empresários Paulo Morinigo e Vitor Ivanovitch, sendo certo que havia circulação de valores oriundos do esquema criminoso entre as contas da Expoarte, Liliz Brazilian, Vest Tur, Paulo Morinigo ME e Vitor Ivanovitch ME.
COMO FUNCIONAVA A LAVAGEM
Durante a investigação, os agentes tiveram acesso à prestação de contas do bando em várias comunidades. Apenas na Baixada, o faturamento mensal da facação chega a R$ 7,2 milhões. Cerca de 20% desse valor é repassado aos líderes da quadrilha.
Através dos dados obtidos, descobriu-se que a “lavagem” acontece para dar “legalidade” ao valor obtido com o tráfico de drogas, compra e venda de armas de fogo e munições, roubos de carga, de veículos, a estabelecimentos comerciais, a instituições financeiras, dentre outros crimes.
As investigações apontaram ainda que os criminosos usam contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas para fazer depósitos de grandes valores. Depois, eles retiram o montante dessas contas como se fosse valor “legal”.
As empresas envolvidas no esquema ficam no Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Algumas têm sede, com vários funcionários, e recebiam depósitos de valores diretamente dos traficantes. A diferença da renda declarada oficialmente e o montante depositado era bem grande, chegando a milhões de reais por ano.
“No transcorrer da investigação, foram detectadas inúmeras negociações de vendas de armas e drogas pela organização criminosa, sendo identificadas diversas contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas envolvidas na transação”, conta Curi.
Os agentes conseguiram o bloqueio dessas contas, que terão o valor apreendido.