Empresária se indigna com pedido racista de cliente por aplicativo: ‘Mandem entregador branco, não gosto de pretos nem pardos’
Além de querer escolher a cor da pele da pessoa que levaria a encomenda, a mensagem ainda diz: 'Venham rápido'. Polícia Civil deve investigar o caso como suspeita de racismo.
Vanessa Martins, g1 Goiás
Ao fazer um pedido de comida para uma confeitara por meio de aplicativo, uma pessoa quis especificar a cor da pele do entregador, em Goiânia. A situação causou indignação e constrangimento na empresária que recebeu a solicitação. Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri) da Polícia Civil não recebeu denúncia formal, mas deve investigar o caso.
A imagem do comprovante da entrega começou a circular pelas redes sociais e foi enviada à TV Anhanguera. No recibo, é possível ler a observação feita pelo cliente: “por favor, mandem um entregador branco, não gosto de pretos nem pardos. Venham rápido”.
O iFood informou, por meio de nota, que “repudia qualquer ato de discriminação” e que irá “iniciar um processo de investigação interno para que as devidas providências sejam tomadas, incluindo o descadastramento do cliente” – leia íntegra ao fim da reportagem.
A dona da confeitaria relatou que sentiu indignação e revolta quando leu a mensagem.
“Recebemos esse pedido [na quinta-feira (3)]. Completamente constrangedor e desumano. Fiquei tão desconcertada que até pedi desculpas para o motoqueiro quando ele veio buscar o pedido”, disse.
A empresária contou que, depois que, após a entrega, o motociclista voltou à confeitaria e disse que foi recebido por duas mulheres.
“Ele veio contar que elas disseram que o pedido era delas, mas que não haviam escrito aquela mensagem. Parece que uma disse que foi o marido, depois disse que não foi. Não explicaram direito”, contou a empresária.
O g1 não conseguiu localizar o entregador para falar com ele sobre o caso.
Investigação
A empresária disse que preferiu não denunciar o caso à Polícia Civil. “Achei melhor deixar nas mãos dele com receio de constrangê-lo ainda mais”, explicou.
O delegado Joaquim Adorno, que chefia o Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri), disse que não recebeu nenhuma denúncia do caso diretamente, mas que a situação será investigada.
“É um crime de ação pública incondicionada, então a Polícia tem a obrigação de apurar. […] Esse tipo de comportamento pode ser configurado como prática, incitação ou induzimento ao preconceito ou discriminação de raça, cor ou etnia, […] com pena de prisão de 1 a 3 anos”, detalhou.
Nota completa do iFood
O iFood lamenta o caso e reforça que repudia qualquer ato de discriminação. A empresa preza por relações e ambientes seguros e livres de assédios, preconceitos e intimidação em todas ações que realiza, sempre baseado em respeito, conforme os valores presentes em seu Código de Ética e Conduta.
Por conta desse episódio, vamos iniciar um processo de investigação interno para que as devidas providências sejam tomadas, incluindo o descadastramento do cliente.
O iFood ressalta a importância de que sejam registrados em Boletins de Ocorrência junto às autoridades de segurança pública e segue à disposição para colaborar com as investigações, caso seja solicitada.