Política

Xavantes apontam ingerência política e pedem exoneração de chefe do DSEI em Barra do Garças

SESAI diz que nomeação do Crisanto se baseia no perfil técnico e capacidade de diálogo.

Jacques Gosch | RDNews

Os indígenas Xavante da Terra Indígena Marãiwatsédé de Mato Grosso, liderados pelo cacique Damião Paridzané,  exigem que o ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP) revogue a nomeação de Crisanto Rudzö Tseremey´wa como coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Xavante, sediado em Barra do Garças. A portaria foi publicada no último dia 10 de julho.

Em comunicado, os Xavante  afirmam que o  secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Ricardo Weibe Tapéba, desrespeitou a indicação feita pelos caciques da etnia. Além disso, apontam ingerência política do PT e partidarização das questões indígenas.

Segundo o comunicado, em  25 de outubro de 2024 foi realizada assembleia geral  com todos os caciques representantes das nove Terras Indígenas Xavante para indicar o nome para coordenação do DSEI. Após votação,  Sérgio Tseredzatsu Abhö´ödi foi indicado para ocupar o cargo após seis meses da exoneração do antigo coordenador, Bruno Tserebutuwe Tserenhimirami.

Na ocasião,   dois nomes foram propostos. Sérgio obteve oito votos favoráveis e Crisanto Rudzö Tseremey´wa recebeu quatro. A decisão está registrada em ata da assembleia realizada na Terra Indígena Marãiwatsédé, em Bom Jesus do Araguaia com a presença de todos os caciques e do então presidente do Conselho Distrital, . Edmundo Dzu´aiwi Õmore, que manifestou apoio à indicação de Sérgio.

Segundo os Xavante, mesmo após a decisão da assembleia,  um grupo de pessoas juntamente com a Associação A´õpa tentou articular a indicação de Crisanto em reunião restrita com alguns caciques da T.I Parabubure, na aldeia Santa Rosa. No entanto, a tentativa foi rejeitada pela maioria das lideranças

O comunicado  também relata que o secretário de Saúde Indígena Ricardo Weibe Tapéba, visitou a aldeia São Pedro tentando reverter a decisão legítima, fortalecendo articulações políticas de interesses pessoais, associativos e partidários. Apesar da tentativa, outra assembleia foi realizada e a maioria dos caciques manteve sua escolha democrática.

“Durante a visita, o Secretário usou termos partidários (PT) que não condizem com a cultura Xavante, o que causou grande descontentamento, embora respeitemos os partidos” diz trecho do comunicado.

Partidarização

Os caciques afirmam que o  DSEI Xavante é a  entrada para atendimentos médicos e vacinação tanto para quem vive nas aldeias quanto para quem está na cidade. No entanto, segundo eles,  a porta está sendo fechada pela política partidária e por interesses de grupos externos.

“Depois da exoneração do último coordenador do DSEI, a indicação legítima e unânime do nosso irmão Sérgio Tseredzatsu Abhö´ödi foi ignorada pelo secretário de Saúde Indígena, Ricardo Weibe Tapeba — ex-vereador do PT em Caucaia (CE) (…) Essa ingerência política tem causado indignação e divisão entre os Xavante. Até o nosso cacique geral, Damião Paridzané, expressou sua revolta, dizendo que a SESAI, usada pelo Governo Federal, tenta manipular lideranças e criar conflitos dentro do próprio povo Xavante”, completa o documento.

Viagem a Brasília

Após a visita de Ricardo Weibe Tapéba, os caciques das nove  aldeias  Xavante  foram a Brasília exigir respeito à decisão da assembleia. Conforme os caciques, o secretário da SESAI prometeu encaminhar o nome de Sérgio à Casa Civil, mas não cumpriu. Em vez disso, enviou o nome de Crisanto — que consideram pessoa com restrições judiciais e sem qualificação técnica.

De acordo com os caciques, o  fato que impede a nomeação de  Crisanto Rudzö Tseremey´wa é a falta de  escolaridade adequada nem qualificação para a função administrativa. No entanto,   Ricardo Tapéba Weibe  garantiu a portaria com a nomeação, apesar da rejeição.

“Nós, povos Xavante das nove T.I.s, junto ao Cacique Geral Damião Paridzané, apelamos por respeito. Exigimos que o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, revogue imediatamente a portaria de 10 de julho de 2025 que nomeia Crisanto, contrariando a vontade da maioria e ameaçando a unidade do nosso povo”, conclui o comunicado.

Outro lado

 tentou contato com Crisanto Rudzö Tseremey´wa. No entanto, não obteve retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para manifestação.

Já a SESAI informa que cargo de coordenador do DSEI é de livre nomeação do Ministério da Saúde. A decisão de nomeação do Crisanto se baseia no perfil técnico do mesmo e a capacidade de diálogo com as comunidades.

Em nota, pontou  nome defendido pelo Cacique Damião era de um colaborador já lotado no DSEI, que não havia perspectiva de mudanças no modelo de gestão imposto no DSEI.

“Há altas em indicadores importantes como o de mortalidade infantil, indícios de irresponsabilidades e problemas graves de gestão que precisam ser cuidados. A Sesai está dando suporte ao DSEI. Estão realizando uma força tarefa e elaborando um plano de apoio assistencial e de gestão. Servidores e colaboradores da SESAI, nível central estarão se revezando nesse apoio”, afirma a nota.

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