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Projeto com povo Xavante fortalece segurança alimentar e hídrica em duas aldeias

A iniciativa foi realizada entre 2022 e 2024, pelo Instituto Flor de Ibez, com apoio do Programa REM MT, que investiu R$ 359 mil para a execução do projeto.

O projeto “Ö ihöibaré, abhu tsima ‘wara – Água viva, Cerrado em pé”, executado nos territórios São Marcos e Pimentel Barbosa, em Barra do Garças, beneficiou diretamente 147 indígenas Xavante das aldeias São Brás e Wederã, promovendo ações de conservação ambiental, restauração ecológica e fortalecimento da soberania alimentar e hídrica.

A iniciativa foi realizada entre 2022 e 2024, pelo Instituto Flor de Ibez, com apoio do Programa REM MT, que investiu R$ 359 mil para a execução do projeto, com objetivo de transformar a Aldeia São Brás em um núcleo multiplicador de práticas regenerativas, dando os primeiros passos para que se torne uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) voltada à produção sustentável.

Segurança hídrica e alimentar 

Um dos desafios das comunidades Xavante é a escassez de água no período de seca. Para garantir o abastecimento, o projeto implantou um sistema de bombeamento por roda d’água, com captação no rio São Marcos e armazenamento em reservatórios de 15 mil litros, além de sistemas de irrigação por gotejamento em 2 mil metros de área plantada. Também foram perfurados poços artesianos e construídas cacimbas e barraginhas para infiltração de águas pluviais, fortalecendo a área de recarga das nascentes.

O projeto impulsionou a transição para o retorno de uma alimentação mais saudável, recuperando práticas tradicionais de cultivo. Foram implantados quintais produtivos e sistemas agroflorestais, com espécies nativas e frutíferas como pequi, baru, jatobá, abacate, banana e cítricos.

Cirino Hi’a’u Urebété, é Monitor Agroflorestal e fundador da aldeia São Brás e conta que o projeto foi uma iniciativa importante para a aldeia, pois eles estavam consumindo alimentos que não faziam bem para a saúde dos indígenas, o que gerou aumento de doenças como diabetes e pressão alta. Agora, visam uma alimentação melhor por meio do projeto: “Ainda temos dificuldade para achar comida boa, sempre buscamos e sempre iremos buscar aqui na comunidade São Brás. Os nossos jovens vão continuar o nosso trabalho de cuidar das agroflorestas e da roça de toco. A nossa nascente, no período de seca, começa a secar e por isso estamos produzindo buriti também”, conta Cirino.

Foram mais de 4 mil mudas de árvores plantadas e 1,5 mil mudas de buriti, no sistema agroflorestal próximo à aldeia. No viveiro, foram mais de 400 mudas de buriti produzidas e quase 3 mil semeadas, além de 100 berços de mamão e 700 berços de hortaliças. Para proteger essas áreas, foi construído um aceiro de mais de 7 km, prevenindo incêndios que ameaçam as roças.

O coordenador do Instituto Flor de Ibez, Artur Simón, destaca que o projeto contribuiu para conscientizar a comunidade sobre a importância de plantar buritis, garantindo a preservação dessa espécie essencial para a cultura Xavante. O buriti é amplamente utilizado na alimentação, em rituais, na confecção de artesanato e até nas tradicionais corridas de tora. Segundo Simón, cultivar essa palmeira não apenas reforça práticas culturais, mas também promove uma alimentação mais saudável e reduz a dependência de produtos industrializados.

“Tem algumas coisas que a aldeia, como um todo, compreendeu. Como funciona a questão da nascente, que é importante ter árvores, raízes, nutrir a nascente, recuperar o Cerrado, ter alimento e árvores de uso perto da aldeia, seja para construção, ritual ou alimento. Então, a gente está aumentando o Cerrado em torno da aldeia, protegendo contra o fogo, recuperando a nascente e produzindo alimento localmente”, conta Artur.

Formação e protagonismo indígena

O projeto promoveu oficinas sobre restauração ecológica, agrofloresta sintrópica, irrigação e viveiros, garantindo que os próprios indígenas dominem as técnicas implantadas e possam dar continuidade ao trabalho iniciado com o projeto. Na Aldeia Wederã, foram realizados módulos formativos para implantação de quintais agroflorestais e uma parcela comunitária de agrofloresta.

Erlie Runhamre, morador da aldeia Wederã e participante do projeto, destacou a importância do aprendizado: “Aprendemos muito. Plantamos várias frutas que estavam faltando na aldeia. É um trabalho muito importante para mostrar aos jovens e às crianças, para que não esqueçam das nossas comidas e frutos tradicionais. Nós estamos alimentando a terra e a terra está dando pra nós também”, afirmou.

Legado do Projeto

O impacto da iniciativa reflete na saúde desse povo, que com o cultivo dos alimentos e com água durante todo o ano, voltará a ter uma alimentação saudável e tradicional, com autonomia para voltar a produzir o que precisam, como explicou o ancião da aldeia Wederã, Cipassé.

“Os Xavantes não tem costume de mexer com roça, de derrubar uma área, de plantar, eles tem costume de caçar e coletar. Em consequência do contato (com os não indígenas) que trouxe essa mudança trágica, é que o pessoal priorizou comer fora, ao invés de comer a comida que comiam. E as comidas que eram importantes, que tinham nutrientes, vitaminas, orgânicas, eles deixaram de lado, que são os frutos do Cerrado. Hoje, esse trabalho que estamos fazendo é de conscientização, tentar resgatar tudo isso que nós perdemos ao longo de quase 80 anos de contato com não indígenas”.

Mais do que sistemas implantados, o maior resultado foi a conscientização coletiva sobre a importância de cuidar da água, do solo e da biodiversidade, garantindo alimento saudável e preservação cultural.

Como registro de todos esses resultados, foram produzidos dois documentários, mostrando o projeto na aldeia São Brás e na aldeia Wederã. Os vídeos podem ser assistidos clicando AQUI ou no canal do Youtube do Programa REM MT.

Conheça o REM MT

O Programa REM MT é uma premiação dos governos da Alemanha e do Reino Unido, por meio do Banco Alemão de Desenvolvimento (KfW), ao Estado de Mato Grosso pelos resultados na redução do desmatamento.

Na fase I do Programa REM MT, foram apoiados 157 projetos, beneficiando 144 organizações sociais, entre elas, 114 associações ou cooperativas. Os projetos abrangem os três biomas de Mato Grosso: Amazônia, Cerrado e Pantanal.

Dentre os resultados alcançados pelo programa, se destacam as 603 aldeias atendidas, onde vivem 43 povos indígenas, os 107 municípios mato-grossenses beneficiados, as mais de 35 mil pessoas atendidas e os 160 mil hectares de desmatamento evitados em Mato Grosso por meio da atuação do REM MT, nos anos de 2021 e 2022.

O Programa REM MT é coordenado pelo Governo do Estado de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA), e tem como gestores financeiros o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) e a Fundação Amazônia Sustentável (FAS). Para sugestões, reclamações ou esclarecimentos, fale com a ouvidoria da SEMA pelo telefone: 0800 065 3838 ou (65) 99321-9997 (WhatsApp) .

Da assessoria c/ Gazeta Digital

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