Polícia Civil cumpre mandados contra servidores suspeitos de atrapalhar investigações de esquema de grampos ilegais em MT
O inquérito aponta que oficio da denúncia da grampolândia nunca chegou as mãos do então governador, pois o protocolo foi cancelado, editado e o dossiê roubado pelos dois servidores investigados.

Kathlin Moares, g1 MT
Dois mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos nesta quarta-feira (15) contra dois servidores da Casa Civil, em Cuiabá, suspeitos de fraudarem documentos e atrapalharem as investigações do esquema de grampos ilegais em Mato Grosso, a ‘grampolândia pantaneira’.
A Polícia Civil está na casa dos servidores Jose Adolpho de Lima Avelino Vieira e Rosângela da Silva Oliveira. Rosinaldo é suspeito por estar a frente e ser o responsável diretamente pela fraude.
O g1 tenta localizar a defesa dos servidores.
Os mandados também pedem afastamento funcional, proibição de manter contato com determinadas pessoas e suspensão de eventual processo de aposentadoria formulado pela Autoridade Policial em respondência pela Delegacia de Policia da Investigação Especial.
De acordo com as investigações, na época da grampolândia, o Secretario de Estado, Mauro Zaque de Jesus, protocolou junto a Gerencia de Protocolo e Postal da Casa Civil, um ofício, em envelope lacrado, com destino ao então governador Pedro Taques, noticiando a existência de ‘escritório clandestino de espionagem’ coordenado pelo setor de inteligência da Policia Militar, a fim de que fossem adotadas as providencias cabíveis.
No entanto, tal oficio nunca chegou as mãos do governador, pois o protocolo foi cancelado, editado e o dossiê subtraído pelos dois servidores investigados.
Segundo a polícia, há indícios de que os suspeitos Rosinaldo Nunes de Almeida e Rosângela da Silva Oliveira possam estar em posse do dossiê apresentado por Mauro Zaque, até agora não localizado, bem como que tenham concorrido para os delitos de falsidade ideológica e associação criminosa, em apuração.
Por causa disso, Rosinaldo foi proibido de manter qualquer contato com o ex-governador Pedro Taques, o ex-secretário da Casa Civil Paulo Taques, o substituto de Paulo na Casa Civil, o ex-secretário José Adolfo e com a servidora investigada Rosângela da Silva Oliveira.
Rosângela é investigada porque, segundo o inquérito, ela foi a usuária responsável por cadastrar o dossiê entregue por Mauro Zaque. Ela se identificou como a responsável pelo trâmite no sistema na época. No entanto, sem qualquer justificativa aparente, o encaminhamento para gabinete do governador foi cancelado por Rosângela, no mesmo dia.
Ainda alguns minutos depois do cancelamento, Rosinaldo fez uma atualização no processo e modificou a descrição do documento, sem alterar a numeração do protocolo, fazendo o documento se tornar uma solicitação de obras para Juara e Sinop, e, em seguida, direcionando o documento para o gabinete do Secretario Adjunto de Relações Politicas.
O documento referente às obras já tinha um protocolo manual, com carimbo, que prova que havia sido recebido 20 dias antes. O fato aponta que o documento foi inserido no sistema apenas para viabilizar a ocultação do ofício da grampolândia.
Rosinaldo Nunes já havia respondido a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) em 2018, quando foi detectado que sua senha teria sido usada para extraviar a denúncia, tendo sido recomendada pela comissão julgadora a pena de demissão, por ter incorrido, em tese, em crime contra a administração publica e atos de improbidade administrativa.
No entanto, na época, o governo decidiu arquivar o PAD alegando falta de provas.
As investigações também apontam um terceiro investigado, José Adolpho de Lima Avelino Vieira. Ele teria recebido o documento de Rosinaldo. No entanto, até o momento, verifica-se que somente foi entregue a ele documentos inseridos no protocolo após a suposta subtração e extravio do original. O que foi repassado a ele, em tese, seria um oficio oriundo da Câmara Municipal de Juara (MT), cuja cópia encontra-se encartada aos autos digitais.
O inquérito aponta que em nenhum momento o ofício esteve na posse de Jose Adolpho.
Grampolândia pantaneira
Cerca de 80 números de telefone foram grampeados pelo núcleo de inteligência da Polícia Militar de Mato Grosso, no esquema ilegal de espionagem.
As interceptações clandestinas teriam ocorrido entre outubro de 2014 e agosto de 2015 e tiveram entre os alvos o desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) José Ferreira Leite, a deputada estadual Janaína Riva (PMDB), e o vereador Vinícius Hugueney (PP), que atualmente comanda a Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Econômico de Cuiabá.
O ex-secretário de Segurança Pública, Mauro Zaque, disse ter entregue ao governador documentos que comprovavam a existência de “escritório clandestino de espionagem”, para que o caso fosse investigado.
No entanto, o governador negou ter recebido essa documentação.
Em interrogatório na Vara Militar, o coronel Evandro Lesco, suspeito de comandar um suposto esquema de interceptações telefônicas clandestinas, citou o envolvimento o ex-procurador-geral do Ministério Público Estadual (MPE), Paulo Prado, no suposto esquema. De acordo com o depoimento do PM, as placas usadas nos grampos eram do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco).
Durante o depoimento do coronel Zaqueu Barbosa, após o contato feito por Paulo e Pedro Taques em 2014, o coronel Celso Barbosa teria trazido do Rio de Janeiro duas placas de interceptação de telefone. Zaqueu teria passado o equipamento para Lesco, que teria entregue ao cabo Gerson.