Cidades

Pandemia aumenta casos de ansiedade, pânico e até suicídio; tema ainda é tabu

Na linha de frente profissionais apontam o cuidado com a saúde mental como fundamental.

Beatriz Passos | RDNews

Por ser um grande tabu social, o suicídio ainda é um assunto pouco tratado e representa uma das maiores causas de morte da sociedade brasileira. Em Mato Grosso, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), somente no primeiro semestre de 2021, já foram 118 de atentados contra a própria vida. Em 2020, no auge da pandemia da covid-19, o estado registrou aumento de 18% dos casos, atingindo a marca de 267 casos. Em Reportagem Especial, o conversa com especialistas no assunto e discute quais são as situações de maior vulnerabilidade e suscetíveis ao suicídio.

Desses números divulgados pela Sesp, a população masculina se destaca como a mais vulnerável em Mato Grosso, figurando a maioria dos casos nos últimos três anos. Em 2019 foram 173 homens, contra 53 mulheres; já em 2020 o número aumentou para 207 mortes de homens e 60 de mulheres. Em 2021, os números já chegam a 93 pessoas do sexo masculino e 25 do feminino.

Segundo o psiquiatra Rodrigo de Jesus, um dos possíveis motivos denunciados nos dados é que os homens tendem a ir menos ao médico, até mesmo pelo machismo de achar que não precisam se cuidar, a população masculina tende evitar demostrar fragilidades.

No processo pelo qual a sociedade de modo geral está vivendo, em relação às grandes mudanças causadas pela pandemia, se agravou muito o adoecimento mental, de forma que aumentou muito a ansiedade, a crise do pânico, a depressão e o uso de drogas.

“Tudo isso, a gente sabe, está ligado à questão do suicídio. Então, provavelmente essas pessoas estão mais suscetíveis, e o homem, devido até ao machismo, reproduz a lógica de não precisar de ajuda, e acaba sendo mais contundente em práticas suicidas, usando métodos mais agressivos e ações mais violentas, que muitas vezes inviabiliza até o socorro”, detalhou o psiquiatra.

Ainda, de acordo com o especialista, todo o ambiente de violência acarreta em inseguranças psicológicas que podem influenciar em ocorrências de suicídio. Por isso, pessoas que passam por algum abuso ou vivem constante situações de discriminação estão mais passíveis a práticas suicidas.

“Quando se sofre uma violência dentro do ambiente que é julgado como seguro, ocorre uma quebra de confiança muito grande, o que potencializa os traumas e gera o adoecimento que pode acabar em suicídio. Hoje a gente sabe que muitos transtornos da vida adulta são advindos de traumas da infância, quadros que acompanham a vida inteira”, explicou.

Violência doméstica

Essa situação ocorre bastante em casos de mulheres que sofrem violências domésticas veem no suicídio a única forma de se livrar da situação, explica Rodrigo de Jesus. “Muitas mulheres que passam por abuso doméstico desencadeiam situações de transtorno como ansiedade, medo e pânico. A violência doméstica com certeza é algo que precisa ser responsabilizado como adoecimento e leva ao suicídio”, defende Rodrigo de Jesus.

Outro grupo que merece atenção quando se fala em suicídio são os adolescentes. De acordo com o psiquiatra, a faixa etária apresenta vulnerabilidade por estar passando por fases de transições na vida e ter o psicológico mais sensível.

“O adolescente está na fase de transição passando para a vida adulta, além das mudanças hormonais existem a complexidade do mundo hoje, esse mundo tecnológico que a gente vive, o que faz com que essa população adoeça. O mundo hoje está mais conectado, e qualquer situação tem proporção mundial, então se o jovem passa vergonha aqui, na internet todo mundo fica sabendo, e esses fatores desencadeiam processos que levam ao suicídio”, salienta o profissional.

“Por isso, é importante falar sobre a questão para quebrar tabus e buscar cada vez mais ajuda. Afinal, todo mudo pode passar por isso, porque não tem a ver com a falta de Deus ou até mesmo de vontade. É preciso desmistificar o tema, para que a sociedade consiga superar esse quadro tão sensível da população”, completa o psiquiatra.

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