Os valores invertidos que ameaçam a sociedade brasileira

Virginia Mendes
Noite passada li uma notícia que tinha o título: “Governo de SP é condenado a pagar indenização de R$ 900 mil por abordagem da PM com morte de assaltante em São José.” A matéria relatava que o governo de São Paulo foi condenado a pagar R$ 900 mil em danos morais à família de um assaltante morto durante uma abordagem policial.
Confesso que fiquei incrédula. E isso me fez refletir sobre como os valores estão profundamente invertidos na nossa sociedade.
É impossível ler uma notícia assim sem lembrar dos policiais que saem todos os dias de casa, deixam seus filhos, esposas e maridos e enfrentam uma rotina que coloca suas vidas em risco. Eles fazem isso para proteger pessoas que muitas vezes nem conhecem. As polícias, que incluem todas as forças de segurança, dedicam suas vidas a preservar a ordem, muitas vezes sem sequer a certeza de que voltarão para casa ao fim do dia.
E diante disso, é assim que a justiça retribui? Com uma condenação ao Estado por uma ação policial que ocorreu durante a prática de um crime? É inevitável questionar o rumo que estamos tomando quando quem assume o risco de proteger a sociedade é tratado com desconfiança, enquanto quem colocou vidas em perigo recebe amparo jurídico.
Não se trata de negar a dor de nenhuma família. Toda vida perdida gera sofrimento. Mas também é preciso olhar para quem arrisca a própria vida para defender a nossa.
É inquietante ver decisões que enfraquecem o entendimento do certo e do errado. O que comunicamos aos jovens que tentam seguir o caminho honesto? O que dizemos aos comerciantes que lutam para sobreviver? O que sinalizamos aos cidadãos de bem que fazem sua parte todos os dias?
O cenário que vemos hoje revela tempos em que princípios elementares parecem perder força. Com frequência, o crime tenta ser justificado e a ação policial relativizada. Isso fere não apenas a lógica, mas a base moral que sustenta qualquer sociedade saudável.
Essa inversão de valores corrói a confiança das pessoas e cria um ambiente de insegurança e descrença. Quando quem cumpre a lei se sente vulnerável e quem descumpre encontra respaldo sem responsabilidade, algo está profundamente equivocado.
Não falo de ideologia. Falo de valores.
Falo da importância de recuperar a noção de justiça que protege o cidadão honesto, da responsabilidade por cada ato cometido e do respeito às autoridades, às regras e ao esforço diário de quem trabalha para manter a sociedade em pé.
Como mãe e como cidadã, sinto preocupação com o país que estamos construindo. Este não é o momento de silenciar, mas de refletir e defender aquilo que é correto. Se queremos um Brasil mais seguro e mais justo, precisamos reafirmar nossos valores com clareza e coragem.
Precisamos apoiar quem protege.
Precisamos valorizar quem cumpre a lei.
Precisamos reconstruir o senso de responsabilidade que está se perdendo no meio de tantas distorções.
Quando os valores se invertem, toda a sociedade perde. Mas quando reencontramos o caminho da verdade, da justiça e da responsabilidade, toda a nação tem a chance de vencer.
Finalizo parabenizando a Polícia de São Paulo e também as forças de segurança do nosso estado pelo trabalho excepcional que realizam diariamente. São profissionais que enfrentam riscos reais, deixam suas famílias em casa para proteger outras famílias e atuam com coragem, disciplina e um compromisso inquestionável com a vida. A eles, deixo meu respeito e minha gratidão. Que nunca falte reconhecimento pela nobre missão que desempenham e pela dedicação incansável em manter a sociedade segura.
E diante de tudo isso, fica impossível não lembrar da pergunta que ecoa há décadas na música brasileira e que hoje soa mais atual do que nunca: que país é esse?
Virginia Mendes é primeira-dama de Mato Grosso, idealizadora do Programa SER Família









