Livro bilíngue valoriza memória feminina A’uwẽ e terá lançamento na Aldeia São Marcos como devolutiva de pesquisa

A literatura infantil brasileira recebe, neste mês de dezembro, uma obra singular escrita em português e na língua A’uwẽ, reunindo tradição oral, memória e resistência cultural. Trata-se do livro O canto que a menina A’uwẽ guarda no coração da aldeia, de autoria de Dandara Christine Alves de Amorim, resultado do Produto Técnico do Mestrado Profissional em Estudos Culturais, Memória e Patrimônio do Câmpus Cora Coralina, na cidade de Goiás. A defesa está marcada para o dia 15 de dezembro e representa o segundo título de mestra da autora, que desenvolveu o trabalho sob orientação da Prof.ª Dra. Keley Cristina Carneiro e coorientação do Prof. Dr. Ricardo Oliveira Rotondano.
A obra apresenta uma narrativa poética que introduz o leitor à história de Tsinhõtsé, uma menina que aprende o valor do canto, da escuta e da transmissão da memória coletiva entre as mulheres A’uwẽ. Inspirado em práticas tradicionais observadas durante a pesquisa, o livro destaca a relevância das guardiãs dos cantos — aquelas que protegem, ensinam e transformam silêncio em caminho. As páginas iniciais convidam o leitor a chegar “com respeito, com silêncio, com o coração disposto a aprender”, descrevendo o território A’uwẽ como um espaço vivo, onde cada gesto carrega história e cada canto se torna ponte entre passado, presente e futuro.
Além de sua força narrativa, a obra se distingue por ser bilíngue, acompanhada de um glossário em língua A’uwẽ e de ilustrações que reforçam a atmosfera sensível que permeia toda a história. Trata-se de um livro que nasce do diálogo entre a pesquisa acadêmica e o compromisso ético de ouvir, aprender e devolver à comunidade a memória que a sustenta. A versão digital do livro já está disponível gratuitamente no site da editora Worges, podendo ser acessada pelo link: https://www.worgeseditoracao.com/livrosdigitaisefisico/ebook90
Como parte fundamental da devolutiva da pesquisa, a versão física do livro será lançada na Aldeia São Marcos, em uma roda de conversa conduzida com as mulheres e lideranças locais. O lançamento na aldeia simboliza o retorno do conhecimento a seu ponto de origem e reafirma o caráter coletivo do trabalho. Para Dandara Amorim, esse momento representa a essência da pesquisa: “Escrever esta obra foi um ato de escuta e respeito. Lançá-la na Aldeia São Marcos significa reconhecer que o conhecimento nasce da comunidade e para ela deve retornar. Este livro é, antes de tudo, um agradecimento às mulheres A’uwẽ, que transformam memória em caminho”, afirma.
Com sensibilidade literária e profundo compromisso cultural, O canto que a menina A’uwẽ guarda no coração da aldeia amplia o acesso a narrativas indígenas, aproxima crianças e educadores da riqueza da oralidade A’uwẽ e reafirma a potência das mulheres como guardiãs da memória. O livro é mais do que um produto de mestrado: é um gesto de cuidado, reciprocidade e reconhecimento, que agora encontra novos leitores sem perder sua raiz primeira, fincada no coração da aldeia.










