Ginecologista investigado por crimes sexuais nega abusos e alega ‘brincadeira’ com pacientes
Ministério Público recorreu de decisão que soltou Nicodemos Junior após 5 dias de prisão. Segundo a PC, mais de 50 mulheres o denunciaram por algum tipo de abuso.
Danielle Oliveira, g1 GO
O ginecologista Nicodemos Júnior Estanislau Morais, de 41 anos, suspeito de crimes sexuais durante atendimentos em Anápolis, a 55 km de Goiânia, negou que cometeu abusos. Em entrevista à TV Anhanguera, ele alegou que comentários que fez à pacientes eram “brincadeira” e, sobre isso, ele admitiu que pode ter errado. O Ministério Público recorreu da decisão que soltou o médico.
“É muito complexo. Eu brinco com algumas coisas. Às vezes, nisso, eu pequei, realmente. (…) Mas, nunca, em nenhum momento, eu toquei em uma paciente com objetivo de ter prazer sexual ou de fazer ela ter um prazer sexual, porque o objetivo ali é o exame físico”, disse.
Pacientes revelaram à polícia conversas que tiveram com o médico em redes sociais e no consultório onde atendia. Segundo elas, muitas tinham cunho sexual, como “transar fortalece amizade” ou “faz o bronzeamento e me mostra”. Após três delas procurarem a polícia, ele foi preso, mas foi solto após decisão judicial.
Sobre o teor das mensagens trocadas com pacientes, o ginecologista admitiu que pode ter feito alguma “brincadeira” de “forma inadequada”. O médico é investigado por importunação sexual, violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável.
“Muitas vezes, elas falam, ‘olha, doutor, eu fiz alguma coisa assim, será que vai acontecer alguma coisa?’. Um erro meu, concordo, brinco no WhatsApp, comento alguma coisa de uma forma inadequada. Concordo que eu fiz isso, nisso eu estou errado”, admitiu.
Ainda durante a entrevista, o médico contou que faz parte de sua profissão fazer o exame de “toque” nas pacientes, que é quando o ginecologista analisa o colo do útero.
“Não foi o meu objetivo, mas durante o exame físico eu tenho que fazer o toque. Um ginecologista que não faz o toque em sua paciente, ele não examinou. Assim como um cardiologista que não escuta o coração do seu paciente, ele não examinou”, contou.
MP recorre da decisão que soltou o médico
Nicodemos Júnior foi preso preventivamente em 29 de setembro, mas, cinco dias depois, foi solto. O Ministério Público de Goiás (MP-GO) recorreu da decisão que concedeu liberdade provisória ao médico.
Em audiência de custódia, na sexta-feira (1º), a promotora de Justiça Camila Fernandes Mendonça pediu a manutenção da prisão do médico para a garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal e aplicação da lei penal. Nesse dia, a prisão foi mantida.
No entanto, após o juiz conceder liberdade provisória ao médico na última segunda-feira (4), o MP entrou com um pedido de reconsideração, alegando o equívoco da decisão. Apesar disso, o pedido, segundo o MP, ainda não foi analisado até esta terça-feira (5).
No documento, a promotora apontou que, se for mantida a prisão preventiva do médico, isso poderá possibilitar novas denúncias, visto que mais de 50 mulheres já procuraram a polícia para denunciá-lo.
Além disso, o MP afirmou que a ordem pública ainda está “abalada” diante da gravidade e da repercussão do caso e que somente com a prisão do médico as mulheres se sentiriam encorajadas a noticiar que também foram vítimas dele.
Investigação
Após a prisão de Nicodemos, várias mulheres entraram em contato com a delegacia para denunciá-lo. Segundo a Polícia Civil, mais de 50 mulheres denunciaram o médico por algum tipo de abuso.
A delegada Isabella Joy afirmou ainda que há relatos de mulheres abusadas, inclusive, quando adolescentes. Segundo ela, os crimes aconteciam durante consultas e por aplicativos de mensagens. Há registros de mulheres que o médico tentou agarrar e beijar.
“Temos diversos relatos de vítimas que ele tentou agarrar, beijar, fez que tocassem nos órgãos genitais dele, vítimas que ele abusou durante o parto, que sofreram depressão pós-parto por causa dele”, descreveu Isabella
Segundo a polícia, o médico já foi condenado por crime sexual no Distrito Federal, em 2019. Mas, como era réu primário, ele não foi preso. Ainda de acordo com a corporação, o médico também foi denunciado no Paraná, mas o caso foi arquivado em 2018.
Conforme o advogado de Nicodemos, atualmente, o médico ainda é considerado réu primário, pois, apesar de ter sofrido uma condenação no DF, o processo ainda está em fase de recurso.
“Ele é tecnicamente primário, pelo fato de não ter nenhuma decisão condenatória transitado em julgado em favor dele, o que significa que a decisão de Brasília está em recurso, ainda há a possibilidade de absolvição dele”, explicou o advogado.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) informou, por meio de nota, que “vai apurar o caso e a conduta do médico no exercício profissional”.