A disputa do segundo turno pela Prefeitura de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, foi parar na polícia. O candidato Léo Vieira (PSC) acusa o atual prefeito, Dr. João (DEM), que tenta se manter no cargo, de participar de um conluio com traficantes para impedir o acesso da campanha adversária a alguns bairros da cidade. Vieira registrou boletim de ocorrência na 64ª DP (Vilar dos Teles) e publicou um vídeo na internet denunciando o suposto acordo. O atual prefeito nega.
Em depoimento à Polícia Civil, Vieira disse que o prefeito, o presidente da Câmara de Vereadores, David Perini Vermelho (DEM), e o ex-vereador Cristiano Santos teriam intermediado o suposto acordo com o tráfico. Santos é irmão de Marcinho VP, um dos líderes da maior facção criminosa do estado, e, segundo a deúncia do candidato do PSC, teria costurado o acordo com o traficante, que cumpre pena em penitenciária federal fora do Rio de Janeiro.
— Eu sempre fiz campanha eleitoral sem nenhuma interferência. Nunca tive problema com ninguém, entrava e saia das comunidades tranquilamente. Nessa campanha fiz caminhadas em áreas com tráfico, mas chegou no segundo turno e recebi essas informações. Falaram que se chegássemos próximo dessas áreas para fazer campanha, iam até mesmo atirar — afirmou Vieira.
Vieira disse que apresentou à polícia postagens em redes sociais, mensagens e áudios trocados supostamente por traficantes para embasar a denúncia. No vídeo publicado nas redes sociais segunda-feira (23), o candidato do PSC aparece ao lado do vice na sua chapa, o deputado estadual e policial militar Marcos Muiler (Solidariedade), logo após registrarem o boletim na DP. Baseado em relatos da população, ele afirma que o tráfico ordenou que seus adesivos de campanha fossem arrancados e que colaboradores estariam sendo hostilizados.
— Segundo populares, a informação que temos é que nosso adversário fez acordo com o tráfico para só deixar entrar o 25 (número do DEM) e proibir o 20 (número do PSC). Está sendo cerceado nosso direito democrático de fazer campanha, ameaçando e intimidando as meninas que trabalham com as bandeiras na nossa equipe. Não vamos nos intimidar, pode ter certeza, agora vemos por que nossa cidade foi ocupada pelo tráfico — acusou Vieira.
A ofensiva da chapa de Léo Vieira aconteceu dois dias após um pedido de envio de tropas federais para o segundo turno das eleições em São João de Meriti, assinado pelo prefeito e pelo presidente da Câmara de Vereadores. No documento enviado ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, eles alegam ter “ciência de inúmeros incidentes de que grupos paramilitares impuseram medo e terror em eleitores”. Segundo o ofício, uma das formas de atuação da milícia é a proibição da entrada de “certos candidatos” em áreas dominadas. As informações, segundo eles, vieram de denúncias anônimas e foram constatadas pessoalmente.
O TRE-RJ, no entanto, informou que recebeu o pedido de reforço na segurança pública do município, mas não tomou conhecimento formal das razões objetivas que justifiquem o auxílio de forças federais. No posicionamento, o desembargador Cláudio Brandão, presidente do órgão, afirma que mantém a confiança nas forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro e que nenhum caso concreto e recente foi indicado para justificar o pedido.
O atual prefeito não cita o candidato adversário em seu pedido à Justiça Eleitoral. Mas, diante de boatos que correm na cidade de que teria envolvimento com a milícia, Leo Vieira rebateu as acusações. Segundo ele, sua campanha é alvo de uma série de notícias falsas para prejudicar o histórico de Marcos Muiler, seu vice. Na internet, Muiler responsabilizou Marcia Fernandes Lucas, secretária municipal de Saúde, pela acusação contra ele de envolvimento com a milícia.
Respostas
Em nota, a Polícia Civil informou que “o caso foi registrado na 64ª DP e as investigações seguem sob sigilo”. Dr. João também se manifestou atavés de nota: “A assessoria de imprensa do candidato à reeleição para Prefeitura de São João de Meriti, Dr. João Ferreira Neto (DEM), informa que ele não tem e nunca teve qualquer ligação com o tráfico de drogas ou com nenhuma atividade ilícita. Dr.João é médico, cirurgião-obstetra, trouxe muitas vidas ao mundo, sempre cuidando das pessoas. Por conta do clima violento e das inúmeras denúncias recebidas pela equipe, o partido Democratas, junto com o prefeito, solicitou, no dia 21 deste mês, ao TSE, ao TRE e ao governador o envio de tropas federais para garantir a lisura do segundo turno da eleição que será neste domingo. O cidadão precisa ter liberdade para votar em quem quiser”.
Acusada por Muiler de compartilhar fake news contra ele, a secretária municipal de Saúde de Meriti, Marcia Fernandes Lucas, respondeu: “A bem da verdade e prezando por eleições limpas, venho a público esclarecer os fatos recentes envolvendo minha pessoa. Fazendo jus ao meu direito de manifestação do pensamento, previsto no art. 5º da Constituição Federal, usei de liberdade de expressão não para acusar o candidato a vice-prefeito Marcos Muiler de qualquer alcunha ou crime, mas sim para compartilhar uma postagem onde, democraticamente, demonstrei minha preocupação em um cenário em que a oposição, juntamente com pessoas que perderam as eleições de vereadores e são alheias à vontade dos eleitores de Meriti, pudesse vencer. O centro da questão se deu porque o nome do candidato na imagem foi originalmente alterado, e por ter sido colocado de forma discreta, não me atentei a isso. Desta forma reconheço que, como milhares de pessoas no mundo, acabei por compartilhar um conteúdo equivocadamente e lamento o transtorno que isso possa ter causado. Em tempo, assim que o fato foi notado a postagem foi prontamente apagada, respeitando assim os adversários políticos e prezando pelo bom transcorrer do pleito. Desta forma, reitero meu compromisso com a verdade e com os preceitos legais que regem nossa nação e estou certa de que o diálogo e o nosso bem maior, que é o amor pela cidade, prevalecerão”.
Acusado de fazer parte do suposto conluio com o tráfico de drogas em São João de Meriti, Cristiano Santos afirmou que não tem nenhum envolvimento com os fatos descritos por Léo Vieira no boletim de ocorrência. Vereador em Belford Roxo, Santos afirmou que pretende ir à delegacia registrar ocorrência contra as acusações que ele considera infundadas.
“O que está acontecendo com ele (Léo Vieira) é um choro de perdedor, está desesperado. Não tenho envolvimento nenhum no caso, nem tenho contato com o presidente da Câmara de Vereadores. Declarei meu apoio ao Dr. João, mas não faço parte da campanha oficialmente. Sou da cidade vizinha e temo pela população de lá o que pode acontecer se Léo Vieira for eleito, por isso o apoio. Estão querendo usar isso e o meu nome porque estão derrotados, fazendo essa palhaçada”, declarou.