Jovem morre após tentativa de aborto dentro de motel em Goiás
Vítima chegou a ser levada a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas não resistiu. Cirurgião-dentista e técnica de enfermagem foram presos suspeitos de envolvimento no crime.

Yanca Cristina | g1 Goiás
Uma jovem de 20 anos morreu após uma tentativa de aborto clandestino dentro de um motel em Ceres, na região central de Goiás. De acordo com a Polícia Civil, um casal foi preso em flagrante suspeito de envolvimento no crime. Eles não tiveram os nomes divulgados.
A vítima foi levada pelo casal para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade na sexta-feira (1º), inconsciente, com crises convulsivas e “sinais compatíveis com a realização de procedimento abortivo clandestino”, informou a polícia. A jovem teve a morte confirmada na unidade.
Em nota, o motel lamentou o falecimento da vítima e disse que “não compactua com qualquer prática ilegal ou que atente contra a vida e os direitos humanos” (leia nota completa abaixo).
Ao g1, o delegado Nelinho Almeida, contou que os relatos indicam que a vítima teve um relacionamento com o homem preso e estava grávida dele. De acordo com a polícia, a mulher presa é namorada do suspeito.
A polícia afirmou que eles são cirurgião-dentista e técnica em enfermagem. De acordo com o delegado, a mulher teria sido responsável pela aplicação da medicação. A reportagem pediu um posicionamento aos conselhos regionais de Odontologia e Enfermagem, mas não teve retorno até a última atualização desta matéria.
Os suspeitos passaram por audiência de custódia no sábado (2) e tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva. O g1 não conseguiu localizar o contato da defesa dos envolvidos até a última atualização desta matéria.
De acordo com o juiz, os investigados disseram em depoimento que “tinham ciência que a jovem correria risco de vida para a realização do aborto, bem como que sabiam da ilegalidade do procedimento”.
Tentativa de aborto
Conforme o documento de audiência de custódia obtido pelo g1, a jovem foi levada até o motel pelos suspeitos, onde prepararam a substância abortiva em 100ml de soro fisiológico.
Em depoimento, a técnica em enfermagem confirmou que foram aplicadas doses do medicamento na vítima para interromper a gravidez. Quando a gestante começou a passar mal, o casal alegou que tentou realizar manobras de socorro. Em seguida, a vítima apresentou sinais de parada neurológica e foi levada à UPA, contaram.
Gravidez
O cirurgião-dentista relatou que foi procurado pela jovem, que disse estar grávida, e que ofereceu apoio a ela.
“Contou, ainda, que conversou com ela e disse que lhe apoiaria em qualquer decisão, tanto a relacionada a manter a gravidez, como a relacionada a praticar o abordo. Disse que ela decidiu abortar e, então, começou a pesquisar sobre como realizar o procedimento”, narrou o suspeito, de acordo com o documento.
O suspeito detalhou às autoridades que “após pesquisar bastante, mandou manipular o medicamento abortivo e, então, em contato com a jovem, decidiram realizar o procedimento”.
Na audiência, o juiz destacou que há indícios de que os suspeitos tentaram descartar os materiais utilizados para o aborto na UPA de Ceres.
O caso segue sob investigação pela Delegacia de Polícia de Ceres e serão apurados exames toxicológicos, laudos periciais e depoimentos testemunhais para a conclusão do inquérito policial.
Comoção
A morte da jovem gerou comoção nas redes sociais. Familiares e amigos lamentaram a partida precoce dela. No Instagram, uma amiga escreveu que ela era uma moça alegre e bondosa.
“Tão jovem, tão cheia de vida, cheia de sonhos para realizar, e hoje recebo uma das notícias mais tristes da minha vida”, publicou um primo.
Em nota, a Câmara Municipal de Ceres também lamentou a morte. “Nossos sentimentos aos familiares e amigos neste momento de dor”, pontuou o órgão.
Leia a nota do motel na íntegra:
“A empresa vem exteriorizar que lamenta profundamente pelo trágico ocorrido da última sexta-feira, dia 01 de agosto de 2025, reforçando que não compactua com qualquer prática ilegal ou que atente contra a vida e os direitos humanos.
Informamos ainda que logo que tomamos ciência sobre a situação, colaboramos integralmente com as autoridades competentes, fornecendo todas as imagens, registros e informações solicitadas, reafirmando nosso compromisso com a legalidade e a transparência.
Reforçamos ainda que as alegações de que o motel apresentou resistência às investigações são absolutamente falsas. Toda a equipe do Safari Motel esteve à disposição desde o primeiro contato, contribuindo de forma ética e responsável com o trabalho da polícia.
Por fim, destacamos que o Safari Motel não possui qualquer envolvimento, responsabilidade ou conhecimento prévio sobre os atos praticados por terceiros em nossas dependências, e continuamos confiando plenamente na apuração da verdade por parte das autoridades.
Agradecemos a compreensão e pedimos cautela na disseminação de informações sem confirmação oficial, em respeito à honra de nossa equipe e à seriedade com que conduzimos nosso trabalho há anos.”