Filho de deputado acreditou que posição social o deixaria impune, diz juíza
Carlos Alberto é suspeito de matar a ex e o atual namorado dela na última quarta (18), em Cuiabá.

Beatriz Passos | RDNews
Em decisão sobre quebra de sigilo e prisão preventiva de Carlos Alberto Gomes Bezerra, a juíza Ana Graziela Vaz de Campos Alves Corrêa, da 1ª Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Cuiabá, não amenizou o parecer e afirmou que Carlos Alberto Gomes Bezerra, suspeito de matar a ex e o namorado dela na última quarta (18), acreditou que sairia impune por ser filho do deputado federal Carlos Bezerra (MDB), um dos políticos mais conhecidos de Mato Grosso.
Thays Machado, de 44 anos, e Willian César Moreno, de 40 anos, foram assassinados a tiros em plena luz do dia, em frente a um edificio residencial de classe média alta no bairro Consil, próximo à Avenida do CPA, em Cuiabá, onde mora a mãe de Thays.
Na decisão em que converteu a prisão em flagrante de Carlos Alberto para preventiva, publicada nesta sexta-feira (20), a juíza Ana Graziela destacou que a posição social ostentada pelo suspeito deveria impedir que atentasse contra a vida de qualquer pessoa, mas ao contrário, “alimentou a certeza da impunidade”.
Segundo a magistrada, desde o início das investigações sobre a morte do casal existiram comentários acerca da falta de punição, alimentados pela posição social ostentada pelo suspeito.
“Em que pese as famílias cuiabanas ao longo de décadas terem consagrado o ‘é gente de quem’ como forma de assegurar-se sobre a companhia de seus filho(a)s, neste caso, tristemente, a procedência familiar do custodiado não bastou para respaldar sua conduta moral. Gente de quem, não é, infelizmente, necessariamente sinônimo de gente de bem”, salientou a magistrada.
Neuropatia diabética
Ainda no documento, Ana Graziela Vaz também desconsidera a justificativa dada pelo suspeito de que seu quadro clínico de neuropatia diabética lhe provocou um descontrole emocional e por isso ele teria matado o casal, classificando a declaração como absurda.
“Rui por completo a frágil e estapafúrdia justificativa do custodiado acerca dos motivos que o teriam levado ao cometimento do crime ao aduzir que estaria acometido por ‘neuropatia diabética’ que haveria lhe ‘descompensado emocionalmente’, primeiro pelos indícios de que seu ‘descompasso emocional’ é muito anterior ao crime e tem outras origens que não a doença diabetes e segundo porque a alegada neuropatia diabética não tem como sintoma a agressividade, o descontrole e nem a violência capaz de levar a prática de um feminicídio e um homicídio qualificado”, destacou a juíza.
Ana Graziela assumiu o caso após o juiz da 12ª Vara Criminal de Cuiabá, Wladymir Perri, declinar competência por considerar o crime um caso de feminicídio. Na decisão, ainda destacou o motivo fútil que teria resultado no crime, no caso o ciúmes que Carlos Alberto sentiria da ex, e destacou o comportamento agressivo do suspeito.
“Além disso, é importante ressaltar, que o custodiado, anteriormente já havia demonstrado a conduta de ameaçar mulheres com as quais havia se envolvido emocionalmente, conforme a certidão de antecedentes criminais e cópia de inquérito policial e medidas protetivas pleiteada por outra vítima em desfavor do custodiado ainda em 2016, mostrando o agravamento de sua conduta”, apontou.
Crime e prisão
Carlos Alberto foi preso ainda na noite da quarta, em Campo Verde (a 142 km de Cuiabá). Ele foi encontrado na fazenda da família no município. O suspeito fugiu logo após o crime. Pouco tempo antes de Carlos Alberto ser preso, o seu pai, Carlos Bezerra, emitiu nota e disse que seu filho se entregaria à polícia. O parlamentar afirmou ainda que estava devastado com o assassinato.