Juiz da Vara Militar aceita denúncia e Tenente Ledur volta a ser ré por “caldos” em aluno
Tenente do Corpo de Bombeiros já foi condenada por maus-tratos que levaram à morte do aluno Rodrigo Claro.

Allan Pereira | RDNews
A tenente bombeira Izadora Ledur é, mais uma vez, ré depois de ser denunciada por suposta prática de tortura contra outro aluno da corporação.
O juiz Marcos Faleiros, titular da 11º Vara da Justiça Militar, foi quem aceitou a denúncia do Ministério Público, segundo confirmação dada pela assessoria de imprensa do Poder Judiciário mato-grossense.
A militar, que já foi condenada ano passado por maus-tratos que levaram a morte do aluno bombeiro Rodrigo Claro, foi apontada por praticar tortura no aluno identificado pelas iniciais M.J.S.
Segundo a denúncia, assinada pelo promotor Paulo Henrique Amaral Motta, M.J.S. apresentou dificuldades durante a formação de disciplina de salvamento aquático, apesar do bom condicionamento físico, além de ser submetido aos chamados caldos (quando uma pessoa é submetida a afogamentos e retirada d’água por diversas vezes seguidas).
Ledur era a instrutora de salvamento aquático em ambiente natural na Lagoa Trevisan em Cuiabá, ou seja, no mesmo local e cerca de um ano antes onde Rodrigo veio a passar mal antes de morrer.
O MP narra que, em um dia que M.J.S. não conseguiu atravessar a lagoa depois de sentir câimbras e ser submetido aos “caldos”, o aluno engoliu muita água, ficou sem forças para emergir e respirar, gritou por socorro, segurou os braços de Ledur e implorou que ela parasse com as sessões.
“A denunciada, por sua vez, além de a reaprender gritando ‘você está louco? Aluno encostando em oficial’, só interrompeu a sessão de afogamento quando a vítima perdeu a consciência”.
O aluno acordou às margens da lagoa, expelindo a água ingerida durante os caldos. Ledur teria exigido, sob gritos, que M.J.S. retornasse para a água. Mas ele não obedeceu e disse para o MP que, se voltasse, tinha certeza que a tenente denunciada tornaria a repetir os afogamentos.
O aluno desmaiou novamente e foi levado até a Policlínica do Coxipó. Prontuário da unidade médica aponta que ele foi submetido a esforço físico desgastante, sofreu desmaio, vomitou três vezes, sentia tremor e dor no tórax.
Para o MP, o relato de M.J.S., de testemunhas e do prontuário médico apontam para a demonstração evidente de Ledur na prática de tortura.
“Ledur submeteu o aluno […], que estava sob sua autoridade, com emprego de violência, a intenso sofrimento físico e mental, como forma de lhe aplicar castigo pessoal”, aponta.
A militar já respondeu a uma ação penal pelo mesmo crime, mas a 11ª Vara da Justiça Militar desqualificou a denúncia e a condenou por maus-tratos a 1 ano de prisão em regime aberto. O entendimento é de que a tenente castigava Rodrigo por meios dos caldos e afogamentos, já que Rodrigo não apresentava bom desempenho. Contudo, a prática não poderia ser vista como tortura.